quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Benaprês Abaixo, Vale Grande Acima

Desafiado por uma amiga, responsável pela empresa que tem executado a limpeza de linhas de água, aproveitei a manhã ensolarada de sábado, para partir à descoberta de mais trilho. Este é um daqueles locais onde, ou aproveitamos para passar agora, ou daqui a uns meses só veremos canavial e silvado.
Com o percurso planeado: mochila às costas, máquina fotográfica na mão, GPS ligado,... e assim começou mais uma aventura
Iniciei o percurso pelo Estradão até ao Fundo das Vinhas. Num olhar mais atento, vislumbrei um edifício que pertence à Quinta dos Vieiras… sem pensar duas vezes, atravessei a vinha para apreciar este belo recanto. Apesar de sempre ter conhecido a quinta do lado de fora da vedação, da sua história, pouco conheço, mas fiquei curioso para descobrir mais... (talvez numa próxima aventura).
A vinha

A Vinha e ao fundo a Adega da Quinta dos Vieiras



Quinta dos Vieiras

Regressei ao trajeto planeado. Sem tardar, saí do Estradão e aproximei-me da Ribeira. Um dos perigos para o qual me tinham alertado era os poços à superfície, sem proteção – e são inúmeros. Alguns sinalizados, outros nem por isso, numa espécie de campo de minas onde todo o cuidado é pouco. Alguns não serão poços, mas sim covas do bagaço: local onde se guardava o bagaço para adubar as terras.
Ribeiro e poço lado a lado
Passagem de margem de outros tempos































Poços encostados à Ribeira. Poços na encosta. Poços aqui e mais poços ali… todo isto reservava água para regar as terras que por aqui eram cultivadas.

Poço em encosta
Poço quadrado

Poço murado


 













Segui viagem Ribeira abaixo… em diversas partes encanada, com muros em pedra.

A Ribeira e os Sobreiros
Ribeira encanada / murada


















Mais à frente, acabei por encontrar outro encanto - uma nora de tracção animal. Junto a ela, uma forquilha e um gadanho, esquecidos por quem trata o campo como ele merece.

Nora
Forquilha e gadanho

Fotos tiradas. Publicação no facebook para fazer inveja a quem não gosta de sair cedo da cama... e, fui descendo a Ribeira da Benaprês.

Pelo caminho só se ouvia a água a correr e os pássaros a cantar…
Ribeira da Benaprês



Passei por um tanque destruído, devido à movimentação de terras. Mais à frente, um poço camuflado com as folhas das canas, e um pouco mais abaixo a falha da Ribeira - devido à Ribeira ser encanada, é fácil detectar qualquer alteração do seu antigo percurso. Cem metros à frente, a água desaparece como por magia e volta-se a ver a luz do dia, já no seu percurso natural.


Falha da ribeira

Continuei a descer o vale, vislumbrei mais um poço com o seu engenho já destruído. E continuei o meu caminho, seguindo pelo leito da ribeira abaixo.
Poço

Mais uma nascente de água férrea e mais um tanque com a inscrição “19-9-1944” – provavelmente a data da sua construção.
Já ao chegar ao fim da Ribeira da Benaprês, deparei-me com a dificuldade de ultrapassar alguns obstáculos como: declive acentuado e a vegetação natural. De pedra em pedra, tentando fintar a água límpida que corria, eis que ultrapassei a parte mais difícil. Deparei-me com as quedas de água, embora que em miniatura, mas sempre belas, aqui presentes.


  
 














Mais uma meia dúzia de passos e cheguei finalmente ao trilho “No Rasto dos Templários”... 

Ponte do GCBarquinhense

O percurso planeado era subir o Vale Grande até ao Caneiro de Baixo.  

Estudando a melhor abordagem


Quando fui para iniciar a subida, reparei que o mesmo não tinha sido limpo, o que aumentaria o grau de dificuldade. Em “modo javali”, segui vale acima: numa primeira parte, segui por vestígios de um caminho antigo, sendo que depois, com receio de cair em poços escondidos na vegetação, optei por fazer o resto da subida a meia encosta do lado esquerdo do vale.
Paisagem a meio da subida

Meia hora depois, acabava mais um passeio, à descoberta de mais um recanto da nossa aldeia.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

À descoberta do Trilho do Nabão

Mais um dia para partir à descoberta: desta vez passei a extrema do concelho e decidi fazer a subida do trilho do Nabão - desde a foz até à antiga Fábrica de Papel da Matrena. Depois de várias caminhadas e trails organizadas pelas associações da Linhaceira e Pastorinhos (e talvez outras que agora não me recordo) que não tive oportunidade de participar, é agora momento de ver o que este Nabão tem para mostrar. Em trilho de terra batida. Junto ao rio Nabão, apesar de a vegetação por vezes o cobrir de tal forma que só ouvimos o correr de água. Todo o percurso tem, apenas, duas ou três partes mais desviadas do rio e são raros os declives acentuados.


 

Depois de passar pela foz e pela extrema do concelho, na ribeira da Perdigueira, passamos ao lado de um açude destruído, mas com algumas partes ainda visíveis. Entramos trilho a dentro, e devido à manutenção feita para o trail do Nabão, podemos observar que o percurso é bem visível.

Pelo trilho fora fui fotografando o que de melhor esta paisagem tem: um velho barco abandonado que já deve ter estado cheio de peixe e hoje está cheio de água; algumas casas: umas em pedra outras já em tijolo que provavelmente serviam para os que do rio viviam; um poço e, num olhar mais atento descubro um outro barco abandonado, este já soterrado.
 

Comecei a ouvir o som mais inquietante da água, mas a vegetação densa não deixou ver do que se tratava. Como sempre lá tive que ir a fura-mato a desvendar aquele mistério e ver o que era. Depois de uns arranhões das silvas e de ultrapassados uns quantos arbustos lá vislumbro um pequeno açude de estacas. Bela obra de engenharia genuína. O açude não era grande coisa mas nestes vales todo o pequeno regato faz um ensurdecedor barulho.


Depois de mais umas centenas de metros a trilhar caminho fora, comecei a ouvir novamente a água, e vislumbrei um novo açude, apelidado logo por mim como “Açude dos Pedregulhos”, ou não fosse composto por vários pedregulhos sendo que um é mesmo enorme. Depois de encontrar os melhores ângulos para capturar tamanha beleza, lá me pôs novamente a caminho.



Mais à frente, deparei-me com uma parede enorme. Achei estranho tal coisa ali e, depois de seguir mais um pouco é que reparei que se tratava nada mais nada menos que de um enorme moinho ainda com o seu açude. Apaixonado por coisas como estas, fiquei logo felicíssimo, só por esta “descoberta”. Depois de fotografados alguns detalhes, chegou o momento de seguir o caminho. 



Mais um barco. O trilho sempre plano, descobre-se uma ponte contruída artesanalmente que dá acesso a um antigo tanque de lavar a roupa. Passa-se ao lado de mais um moinho, este já reconstruído e habitado.


 













































Chega o momento em que o trilho se afasta do rio. Mas como sempre, segui o meu lado de louco e decidi seguir em frente por um “carreiro de cabras”. Acabei a atalhar sobre escarpas rochosas, na tentativa de captar um belo cenário do vale do Nabão.


Dezenas de metro mais a frente, reencontrei o trilho, e segui o percurso demarcado. Acabei por chegar a uma zona impecavelmente cuidada com acesso por escadaria e tudo. Provavelmente será o local de descanso à beira rio de alguém.


Sigui viagem, o fim já devia estar próximo. E acabei por “descobrir” mais um moinho, e se o Geocaching não me engana, este será o Moinho da Varunca. Apesar do seu estado de conservação não ser o melhor, é admirável tal envergadura para o local em que está e à data em que deve ter sido construído. Já diz o ditado “A necessidade aguça o engenho”.


Depois de mais umas fotos para mostrar aos facebookianos o que há para além do que se vê das estradas de alcatrão, lá segui para a recta final da minha viagem.

Chegado à “meta”, na Fábrica de Papel da Matrena, é altura de capturar este belo cenário, o qual se enquadra nas margens do Nabão: a ponte, conta com mais de 300 anos de existência e a fábrica, tem cerca de 100 anos. Apesar do estado de abandono proporciona umas fotografias espectaculares.



Resumindo:  Foz do Nabão > Matrena   [percurso linear | +- 6 km | dificuldade média]
Recomenda-se a todos os amantes de caminhadas onde a banda sonora é a natureza.

sábado, 25 de novembro de 2017

Conheira - Exploração Mineira Romana

Conheira do Cafuz


Conheiras são amontoados de seixos rolados, parte resultante de uma mina de exploração de ouro a céu aberto. Exploração essa, que ao contrário das minas mais comuns, não necessitam de ser feita por grandes túneis e galerias subterrâneas.

Ruina Montium, ou em português “Colapso das Montanhas”, é o nome dado a este método de extracção de minério utilizado pelos romanos. Era utilizado quando a zona a explorar era demasiado grossa, como uma encosta ou um monte, recorrendo a barragens e a sistemas de drenagem.

 

Como funciona este método?

- Primeiro, na zona a explorar eram abertos túneis e galerias, apenas com entradas nos pontos altos. Ao mesmo tempo era construído um sistema de drenagem de água, recorrendo a canais e a reservatórios.
 

- Depois dos túneis estarem abertos e concluído o sistema de drenagem, procede-se à inundação dos túneis. Esta inundação dos túneis acaba por provocar o colapso total da zona escavada.

 
- Após o desmoronamento da zona a explorar, a água que serviu para colapsar o monte é canalizada por calhas de madeira. Nessas calhas ficam depositadas partículas de ouro devido à gravidade.


- Por último, de maneira a evitar um entupimento dos canais, as pedras estéreis maiores, eram retiradas à mão e empilhadas ao lado dos canais em montes. Em algumas explorações a quantidade de material estéril retirado foi tanto que encheu vales e levou ao aparecimento de lagos. Este empilhamento de pedras estéreis, seixos rolados, resultam nas conheiras.



O seguinte vídeo exemplifica todo o processo:
 
 

Las Medulas (Espanha) são as maiores minas de ouro do Império Romano, na qual foi aplicada a técnica de ruina montium.
Em Portugal existem grandes conheiras em Vila de Rei e estudos recentes apontam que a maior área mineira de outro do Portugal romana encontra-se ao longo do rio Alva (concelho de Arganil)

 
No Cafuz, camuflada pelos eucaliptais em seu redor, existe também uma pequena conheira.
Da população local já são poucos os que sabem onde se localiza e menos ainda têm a noção do que se trata na realidade em termos históricos. Alguns sabem que está associado ao ouro mas desconhecem como era executado todo o processo. Todo isto leva a que cada vez mais seja considerado apenas um amontoado de calhaus e consequentemente à desvalorização do património histórico.



 

Trabalho de Investigação

A alguns anos, jovens Limeirenses encontraram objectos datados antes da época romana, como um rapador e um silex. Sendo objectos de fácil movimentação não existem certezas de como foram ali parar. Supõem-se que os romanos terão colocado a trabalhar na exploração povos lusitanos locais e que estes utensílios pertencessem a eles, pois ainda eram muito rudimentares.

 
 

Localização

A conheira localiza-se no Vale da Amoreira, coordenadas GPS N 39° 30.816 W 008° 20.637, sendo o caminho até lá de terra batida. Podem aproveitar para lá ir dar um passeio e apreciar a excelente vista sobre o rio Zêzere.